SORORIDADE PARA QUEM? O ESQUECIMENTO DAS MULHERES NEGRAS E O IMPACTO DE DISCURSOS UNIVERSALISTAS EM DIREITOS HUMANOS
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Sororidade; Direitos humanos; Interseccionalidade; Mulheres negras.Resumo
O presente trabalho tem por escopo realizar uma análise elucidativa sobre os reflexos das violações de direitos humanos perpetrados em face das mulheres negras, a partir de discursos universalizados que emergem de um ideal falacioso de sororidade. Partimos do posicionamento que o esquecimento da pauta feminina negra e o estabelecimento de um feminismo branco hegemônico tende a reduzir a causa feminista a igualdade entre homens e mulheres e omite o recorte racial no movimento. Nessa linha, o estudo justifica-se ante a negligência política, histórica, cultural, econômica e social vivenciada pelas mulheres negras e legitimada pela cegueira colonial que sustenta o próprio sujeito do feminismo branco hegemônico, sobre um fundamento universalizado e inibidor de uma visão crítica sobre sua própria condição colonial e colonizadora. Nessa perspectiva, busca-se desvelar os prejuízos que discursos universalizados dentro dos direitos humanos ocasionam na causa feminina negra e fortalecem o estabelecimento da noção branca de mulheridade. Do mesmo norte, objetiva-se demonstrar a influência do universalismo no silenciamento e na ausência de proteção à dignidade da mulher negra, através da instituição do pensamento branco, eurocêntrico e patriarcal. Em tal ótica, o prisma argumentativo é construído sob uma análise parametrizada da Interseccionalidade entre raça, classe e gênero, uma vez que tais elementos são fios condutores na compreensão das subalternidades racializadas vivenciadas por mulheres negras. A metodologia assumida nesse estudo consiste em uma revisão bibliográfica vasta, com análise crítica a tese da democracia racial e universalismo feminista, legitimadores da sororidade universal, por meio de uma abordagem crítica dos direitos humanos. Destaca-se no estudo reiteradas denúncias de teóricas feministas negras ao prejuízo que o falso universalismo tem na pauta negra, visto que produz um verdadeiro desserviço às reivindicações específicas destas mulheres, ao desqualificar as lutas, à produção de científica, às estratégias políticas e às políticas públicas voltadas às mulheres negras. Assim, impor uma ideia de universalismo é ignorar a ausência de cumplicidade entre mulheres, ante um discurso que legitima a subalternização racializada. É através dessa construção negacionista sobre o racismo, o preconceito e a discriminação racial que teses como a democracia racial ainda repercurtem e são estabelecidas nos campos político, social, histórico, econômico e cultural. Diante disso, emerge a necessidade de vislumbre crítico a influência de discursos universalistas na pauta feminina negra, uma vez que defendê-los é negar a história, as dores e o peso da herança colonial na vida de mulheres negras, e assim perpetuar a negação da sua dignidade.