A PRECARIEDADE DAS POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL PARA A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL - UMA ANÁLISE A PARTIR DO FILME ESTAMIRA

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Autores

Palavras-chave:

Saúde mental, Vulnerabilidade social;, Políticas públicas, Inclusão social, Direitos humanos

Resumo

Este trabalho analisa as lacunas nas políticas públicas de saúde mental para pessoas
em situação de vulnerabilidade social, usando o documentário Estamira para discutir as
limitações e os impactos dessa assistência. O documentário retrata a vida de Estamira, uma
mulher com transtornos mentais vivendo em condições precárias próximas a um aterro
sanitário, expondo a invisibilidade e marginalização enfrentadas por aqueles que dependem
do sistema público de saúde. A Portaria 122/123, de 2012, estabeleceu diretrizes para as
equipes de Consultório de Rua (eCR), visando uma atenção psicossocial ativa à população em
situação de rua, incluindo cuidados para usuários de álcool e outras drogas. No entanto, essas
iniciativas enfrentam desafios como a descontinuidade no atendimento e o caráter
assistencialista das políticas de proteção social, que demandam maior investigação, reflexão
crítica e fortalecimento. A metodologia adotada consistiu em uma análise qualitativa do
documentário, identificando como as condições de vida e a trajetória de Estamira ilustram a
"psicologia do abandono" e as fragilidades das redes de cuidado no Brasil. Essa análise foi
complementada por uma revisão bibliográfica na base PePSIC, que permitiu compreender o
contexto histórico e atual da atenção psicossocial no SUS. A escolha do documentário foi
motivada por experiências acadêmicas nas disciplinas “Psicopatologia Especial” e “Psicologia
em Diversos Contextos”, que fomentaram debates sobre saúde mental, exclusão social e
assistência pública. O estudo evidencia avanços como a criação das eCR e a atuação dos
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que oferecem cuidado territorial e humanizado. No
entanto, essas iniciativas frequentemente limitam-se a atender necessidades básicas, como
distribuição de alimentos e roupas, sem promover estratégias de reintegração social mais
efetivas. Como destaca Brito (2024), a assistência é fragmentada e medicalizante, agravada
por estigmas, preconceitos e desarticulação entre os setores de saúde e assistência social.
1 Estudante do curso de Psicologia pela Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Norte, Campus
Facisa. E-mail: nayane.marinho.708@ufrn.edu.br
1
ANAIS DO SEMINÁRIO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E INTERSECCIONALIDADES
VOLUME 3, 2024, CEEINTER. ISSN: 2764-4758
Além disso, a escassez de recursos financeiros e humanos compromete a continuidade e
eficácia das políticas, dificultando a promoção de um cuidado integral e de qualidade. A
análise de Estamira reflete sobre a interseção entre sofrimento psíquico e exclusão social. A
protagonista, ao articular suas vivências por meio de metáforas e delírios, revela uma tentativa
de dar sentido ao sofrimento, enquanto denuncia as múltiplas formas de violência estrutural.
Seu discurso, embora resistente, expõe o impacto de um sistema que frequentemente reduz
indivíduos à condição de “lixo social”. A metáfora do aterro sanitário, onde Estamira vive,
materializa o abandono e a invisibilidade, evidenciando as falhas do sistema público em
integrar saúde, dignidade e reintegração. O trabalho sugere que a superação dessas lacunas
exige o fortalecimento da intersetorialidade entre saúde e assistência social, com políticas
além do assistencialismo. Propõe-se ampliar o investimento na formação de profissionais para
lidar com populações vulneráveis e criar estratégias para reduzir o estigma associado aos
transtornos mentais. Ao trazer Estamira como metáfora das injustiças sociais e fragilidades
das políticas públicas, este estudo busca não apenas denunciar as falhas do sistema, mas
também apontar caminhos concretos para a construção de uma atenção psicossocial mais
inclusiva, emancipadora e comprometida com a reintegração e dignidade dos cidadãos.

Biografia do Autor

Erika Nayane Martins Marinho, Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Norte

Estudante do curso de Psicologia pela Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Norte, Campus
Facisa. 

Referências

BRITO, C.; SILVA, L. N. da. População em situação de rua: estigmas, preconceitos e

estratégias de cuidado em saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 27, n. 1, p. 151–160, 2024.

Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-81232022271.19662021. Acesso em: 01 nov.

ESTAMIRA. Direção de Marcos Prado. Produção de Marcos Prado e José Padilha. Rio de

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PAIVA, I. K. S. de; LIRA, C. D. G.; JUSTINO, J. M. R.; MIRANDA, M. G. de O.;

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https://doi.org/10.1590/1413-81232015218.06892015. Acesso em: 09 nov. 2024.

ANAIS DO SEMINÁRIO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E INTERSECCIONALIDADES

VOLUME 3, 2024, CEEINTER. ISSN: 2764-4758

SOUSA, E. L. A. de. Função: Estamira. Estudos Psicanalíticos, v. 30, p. 51-55, 2007.

Disponível em:

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372007000100007&lng

=pt&nrm=iso. Acesso em: 12 nov. 2024.

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Publicado

2024-12-26

Como Citar

Marinho, E. N. M. (2024). A PRECARIEDADE DAS POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL PARA A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL - UMA ANÁLISE A PARTIR DO FILME ESTAMIRA. ANAIS DO SEMINÁRIO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E INTERSECCIONALIDADES, 3(1), 01–03. Recuperado de https://revistas.ceeinter.com.br/anaisseminariodepoliticaspublica/article/view/1735

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