OS TRABALHADORES DOS CAPS NA PANDEMIA DE COVID-19: ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO E DEFESA À LUZ DA PSICODINÂMICA DO TRABALHO
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Pandemia; Coronavírus; Saúde do Trabalhador; Psicodinâmica do Trabalho; Centro de Atenção Psicossocial.Resumo
A COVID-19 promoveu rupturas na normalidade das vidas e gerou mudanças abruptas nas relações dentro e fora do ambiente de trabalho. Entende-se, ainda, que os impactos na execução de Políticas Públicas é inegável, refletindo em todos os atores que fazem parte desse processo. No cenário brasileiro, restrições impactam o cotidiano com o intuito de conter a disseminação do vírus. Entre elas está o distanciamento social, que influencia a forma de cuidado aos pacientes com transtornos mentais. Os serviços essenciais, como os dos Centros de Atenção Psicossociais (CAPS), depararam-se com a interrupção dos atendimentos presenciais e perda de seus espaços mais potentes: grupos e oficinas. O trabalho pode desencadear experiências de sofrimento e de prazer, a depender da interpretação dada pelos trabalhadores às suas vivências, da relação com a Organização do Trabalho (como ambiente coercitivo, ou como ambiente que possibilita negociações), e das estratégias de mediação utilizadas diante do sofrimento. Sobre tais estratégias, sinaliza-se que as defensivas atuam minimizando o sofrimento psíquico, porém se mostram pouco eficazes na criação de soluções aos problemas, ocasionando maior risco de adoecimento. Enquanto isto, as de enfrentamento, ou seja, aquelas em que o sofrimento se torna criativo e é capaz de ser ressignificado, podem auxiliar no desenvolvimento de mudanças no contexto laboral e, consequentemente, promover saúde mental aos sujeitos. Desse modo, objetivou-se identificar, à luz da teoria da Psicodinâmica do Trabalho, quais estratégias de mediação do sofrimento estão sendo utilizadas por profissionais atuantes em CAPS durante a pandemia. Esse é um estudo qualitativo, transversal e exploratório. Utilizaram-se como instrumentos uma entrevista semiestruturada, grupal e online, e um questionário sociodemográfico. Houve a participação de quatro trabalhadores que atuam em CAPS, selecionados por conveniência, sendo duas enfermeiras, uma técnica de enfermagem e um educador físico. Todos atuavam na região metropolitana de Porto Alegre (Rio Grande do Sul), e tinham de oito meses a quatro anos de inserção profissional. Nos resultados foram identificadas algumas estratégias defensivas, sendo elas: medicação para controle de sintomas psiquiátricos e afastamento laboral. Ademais, percebeu-se o enfrentamento nas seguintes estratégias: busca de suporte em suas redes de apoio, criação de espaços coletivos para reflexões acerca do momento e busca por qualificação profissional para enfrentar as adversidades relacionadas à pandemia. Coloca-se a percepção de que a busca de terapias alternativas ora atuou minimizando o sofrimento como forma de defesa, ora ressignificando-o. Assim, salienta-se a importância da realização de pesquisas que abordem a saúde do trabalhador na Pandemia, assim como o trabalho na Rede de Atenção Psicossocial, subsidiando novas estratégias de cuidado aos trabalhadores e consolidando uma política de cuidado a esses sujeitos. Também é percebida a necessidade de uma agenda de pesquisa que investigue como esses impactos se refletem na consolidação da Política de Saúde Mental e no cuidado aos usuários desses serviços. Sugere-se ainda, a criação de espaços de escuta e de troca coletiva, onde esses trabalhadores possam trazer suas preocupações cotidianas, fomentando o protagonismo, a cooperação e a busca conjunta de soluções, a fim de reduzir o risco de adoecimento mental no trabalho.