“NEGRO DISFARCE”
A NARRATIVA ALTERFICCIONAL DE OSWALDO DE CAMARGO
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https://doi.org/10.56579/sedh.v2i1.1133Palavras-chave:
Oswaldo de Camargo, Associação Cultural do Negro, Autorias Negras, Alterficção, Literatura brasileiraResumo
O escritor Oswaldo de Camargo começou a publicar em 1958, quando foi um dos integrantes da Associação Cultural do Negro (ACN), entidade que reunia militantes negros na cidade de São Paulo. Esse fato marca o início de uma longa trajetória na literatura, o que o fez se tornar uma referência para as autorias negras e pesquisadores da literatura negra e do movimento social negro, por ser considerado o “elo de gerações”. O momento atual é de reconhecimento de sua produção literária com a publicação de três de seus livros por uma grande editora brasileira, ajudando a ampliar o público leitor e a fortuna crítica de sua obra. Na última década, Oswaldo de Camargo vem se caracterizando por apresentar uma prosa ficcional inquieta, investindo em experimentações narrativas e esgarçando os gêneros literários, principalmente os relacionados à escrita de si, pois o autor parece buscar diferentes formas de narrar as experiências de um negro brasileiro. Em 2020, Camargo lançou a noveleta Negro disfarce para retratar o ano de 1958, especial para a ACN pois comemorava o septuagésimo aniversário da abolição da escravatura, e trata as vivências iniciais de um jovem negro nessa Associação. O autor inova ao transgredir a autoficção a partir de um jogo narrativo que explora a ambiguidade entre fato/ficção, autobiografia/imaginação, explorando a fragmentação de si em outros, reinventando a sua história a partir de diferentes pontos de vista, tanto do narrador quanto de personagens, construindo, assim, uma alterficção negra. A estratégia narrativa da alterficção proporciona ao autor revisitar o seu passado, os anos iniciais como militante negro, poeta e jornalista, assim como reencenar os debates e as polêmicas na Associação Cultural do Negro. O jogo alterficcional de Oswaldo de Camargo ainda promove a recriação de sua infância em Bragança Paulista, assim como traz para o centro da noveleta personalidades negras da literatura e do associativismo, e jornais dessa imprensa alternativa, enriquecendo a experiência de leitores com essa trama entre o real e o ficcional da militância negra em São Paulo durante a Segunda República (1945-1964), estimulando, inclusive, futuras pesquisas sobre esse período histórico do movimento negro. A fundamentação teórico-metodológica para essa comunicação apoia-se em Anna Faedrich e Evando Nascimento para abordar a alterficção; em Mário Augusto Medeiros da Silva e Petrônio Domingues para tratar da Associação Cultural do Negro e o contexto da época; nos depoimentos de José Correia Leite e Oswaldo de Camargo sobre a ACN; e nos críticos literários Cuti e Eduardo de Assis Duarte para abordar as autorias negras brasileiras.