“OS SENTIDOS DE PROFESSORAS SOBRE O TRABALHO COM A LITERATURA NEGRA NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE ANGICOS”

Resumo

Este trabalho é um recorte da pesquisa nomeada “Saberes e práticas dos povos negros e quilombolas nos materiais literários existentes nas escolas de ensino fundamental de AngicosRN” e tem como objetivo analisar os sentidos de professores e professoras no que concerne ao trabalho realizado na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental com as obras de literatura que tratam da temática negra. Para a realização da pesquisa nos
fundamentamos em referenciais teóricos, cuja base está nos estudos decoloniais e interculturais, a partir de Candau (2008), Fanon (2008), Mignolo (2005) e Quijano (2007). Nos estudos críticos e emancipatórios, tendo referência em Freire (2000) e Santos (2007) e, ainda, nos estudos afirmativos com vistas ao fortalecimento da representatividade infantil quando do trabalho com a produção literária (MARTINS & GOMES, 2010). Em relação a metodologia, partimos da pesquisa qualitativa com o intuito de que uma observação direta nas escolas e um diálogo com os sujeitos envolvidos nos permitisse a análise dos sentidos. A análise dos dados, produção ocorrida por meio de entrevistas realizadas com os docentes, foi feita, considerando a análise temática, no âmbito da Análise de Conteúdo, uma proposta da francesa Laurence Bardin (1977). A análise foi organizada conforme os temas ressaltados pelas entrevistadas sobre o trabalho com a literatura negra em sala de aula. Pelo material analisado, por meio da tematização e categorização das entrevistas, inferimos que as professoras compreendem a importância do trabalho com as questões da negritude, entretanto, entender essa relevância não as fazem materializar atividades em sala de aula que tenham a finalidade de proporcionar, entre as crianças, reflexões que levem a debater sobre o combate ao racismo e a afirmação da representatividade negra, tendo como suporte a literatura. Por outro lado, as professoras apontam para a escassez de material didático e literário apropriado e da ausência de formação continuada, de forma que elas possam se apropriar desses conteúdos e suas metodologias.
Apesar desse contexto, o qual não favorece um trabalho afirmativo de representação das identidades negras, esses resultados não parecem causar grandes inquietações nas instituições públicas de ensino, as quais as professoras atuam, posto não haver sinalização que aponte para a busca de solução no campo escolar. Em síntese, a ausência sistemática e contínua de um trabalho com as questões raciais, descumpre o que aponta a Lei nº 10.639/2003, que trata da obrigatoriedade dos estudos sobre a história e a cultura afro-brasileira nas instituições pesquisadas, ainda que as professoras possuam conhecimento sobre o tema e percebam a sua importância, ainda que o trabalho envolvendo a literatura negra ocorra eventualmente em datas comemorativas.