PROBLEMATIZAÇÕES DE ENUNCIADOS SOBRE O NOVO ENSINO MÉDIO OU DAS RELAÇÕES POSSÍVEIS ENTRE DISCURSO, HISTÓRIA E MEMÓRIA
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Nesta comunicação, socializo uma análise de enunciados sobre o denominado Novo Ensino Médio. Perscruto um corpus constituído por reportagens, notícias e comerciais de televisão, enfim, o discurso midiático, para localizar e problematizar enunciados que trataram desse modelo de ensino instituído entre os anos de 2016 e 2017. Para efetuar a análise desse material, recorro às teorizações de Michel Foucault e de alguns de seus comentadores inscritos no campo da análise do discurso. O argumento que atravessa a problematização é o de que os enunciados em circulação na atualidade fazem parte de um regime discursivo próprio do tempo histórico que vivemos, e por isso, face às estritas condições de possibilidade, que são de ordem social, política e econômica, tais enunciados puderam emergir, ganhar algum espaço na mídia, em documentos oficiais, circular na sociedade em geral. Nesse sentido, os enunciados localizados funcionam como parte de um arquivo, daí porque sua inscrição material apenas tem sentido porque recorre a uma memória social, repousa sobre um já-dito, levando os indivíduos ao reconhecimento e a certa aceitabilidade dos ditos e escritos que os interpela discursivamente. Eis aqui um exercício que articula os campos da análise do discurso, da Educação e da História, e interroga, a partir das teorizações de Michel Foucault, por que os enunciados que compõem uma rede enunciativa acerca da escolarização média brasileira e de seus estudantes apareceram neste momento histórico e não em outro. Em se tratando da referida perspectiva, busco compreender a singularidade dos enunciados presentes nos documentos analisados, explicitar as condições que permitiram sua emergência, sua relação com outros enunciados e, sobretudo, os modos de subjetivação que neles estão implicados, ou seja, os tipos de sujeitos que se interpelam em tais enunciações. Concebo a mídia como um dispositivo, porquanto reconheço seus efeitos sobre a forma como os indivíduos agem, pensam, dizem e, principalmente, se reconhecem como sujeitos. Os enunciados inscritos no discurso midiático produzem efeitos que fazem parte dos processos de subjetivação. É também por meio desta modalidade discursiva que se elabora uma “história do presente”, pois o seu conjunto de enunciações verbais e não-verbais constitui a historicidade que atravessa os indivíduos, modelando sua identidade. Na análise, explicito que, nas superfícies midiáticas, inscreveu-se um entrecruzamento enunciativo no qual os jovens foram posicionados como pessoas que devem ser protagonistas, fazer escolhas acertadas em prol de seu próprio futuro, investir no eu por meio do Novo Ensino Médio. Este, por seu turno, foi tratado como tendo uma identidade indefinida, problema que comporta uma historicidade e apoia-se numa “crise” da educação que parece não cessar, mas ainda assim dotado de importância para o futuro dos sujeitos. Tais enunciados sobre os jovens e sobre o nível médio de escolarização não são novos e há décadas figuram em variados discursos, contudo, por estarem mais ou menos sobrepostos por outros enunciados, o cenário brasileiro, à época, favoreceu sua emergência. Afinal, enunciados não irrompem de forma imediata; antes, decorrem de relações de força das quais o discurso, a história e a memória são constitutivos.