EDUCAR PARA FORMAR UM ANARQUISTA
A CULTURA POLÍTICA LIBERTÁRIA EXPRESSA NOS JORNAIS OPERÁRIAS DE SÃO PAULO, NA PRIMEIRA REPÚBLICA
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Cultura Política, Classes Populares, Práticas Pedagógicas, ImprensaResumo
O presente trabalho procura analisar os aspectos da cultura política libertária expressa nos jornais operários e desenvolvida pelos militantes anarquistas de São Paulo, no período entre 1985 e 1935, que fundamentaram suas práticas educativas. As fontes principais da pesquisa são os jornais da imprensa operária que circularam em São Paulo, tais como: A Plebe, A Lanterna, A Obra, A Voz do Trabalhador, O Amigo do Povo e a revista Aurora; além de fontes complementares como folhetos e livretos distribuídos por bibliotecas mantidas pelos jornais anarquistas. No intuito de refletir sobre a atuação desse grupo, a análise apoia-se nos conceitos de “experiência” e “cultura” de E. P. Thompson (1981), e “hegemonia” de R. Williams (1979), a fim de captar as práticas particulares das classes populares em sua relação conflitosa e dinâmica com as classes dominantes, que envolvem trocas, conflitos, fraturas e oposições. Metodologicamente, parto das considerações de B. Bontempi Jr. (2019) que propõe pensar a imprensa como uma tribuna pública que desempenha um papel significativo e ativo na propagação de ideologias, cultura e valores e revela um modelo de cultura política. Como pretendo demonstrar, os militantes lançaram mão de diversas estratégias didático-pedagógicas nos jornais para induzir e convencer as classes trabalhadoras a formarem uma opinião, a adotarem um determinado comportamento, a unir-se à causa libertária e engajar-se na ação. Batalha (1991-92) esclarece que o combate à figura do ócio ou do vício, por exemplo, equivalia a um esforço de conscientização da militância, posto que o trabalho era concebido pelo grupo como fator de legitimação social. Questões como hábitos e costumes eram consideradas tão relevantes e discutidas na imprensa operária quanto os meios de ação e as denúncias acerca das condições de trabalho. Considerando que a pesquisa se encontra em andamento, conclui-se que as diretrizes e proposições impressas nos jornais pautavam-se não apenas em princípios e valores anarquistas, mas conjugaram-se às ideias iluministas, ao positivismo, e ao conhecimento científico. Esses saberes e valores fundamentaram suas iniciativas e práticas educativas no intuito de formar trabalhadores engajados politicamente na busca por concretizar a almejada revolução social. O estudo está vinculado ao Grupo de Pesquisa História da Educação: sujeitos, instituições e práticas (Brasil, séculos XIX-XX), sob orientação do Prof. Dr. Bruno Bontempi Jr.