Chamada de trabalhos - Histórias e Memórias LGBTQI+ nas cidades

21.01.2025

A Revista COR LGBTQIA+ torna pública a chamada de trabalhos para o Dossiê Temático Histórias e Memórias LGBTQI+ nas cidades, de curadoria de Alberto Alexadre Schimitz II; Leandro Fraklin Gorsdorf; Mariana Galacini Bonadio; Raissa Micheluzzi Ferreira; e Remom Matheus Bortolozzi.

Os trabalhos devem ser submetidos pela plataforma do site (https://revistas.ceeinter.com.br/CORLGBTI/about/submissions), atendendo todas as condições e diretrizes.

Ao submeter o trabalho, deve ser informado no comentário para o editor qual o Dossiê Temático escolhido.

O prazo para submissão é: 31/03/2025.

Lembrando que a Revista possui um template para submissão de artigos científicos: https://docs.google.com/document/d/1jf8iHZT8U-qgCXM03BAfcURyQQ0rRrrUxrqaZPUnfv0/edit?tab=t.0.

Ementa: A proposta deste dossiê é reunir análises recentes sobre a produção da História e Memória LGBTQIAPN+ nas cidades, considerando as várias interseccionalidades possíveis que permeiam as vivências de pessoas, grupos e comunidades dissidentes sexuais e de gênero. Busca, ainda, destacar as especificidades das histórias locais em diálogo com a historiografia LGBTQIAPN+ brasileira. Esperamos reunir trabalhos que abordem a pluralidade de vozes, mas também diferentes temporalidades e memórias, incluindo as do movimento organizado, da epidemia de HIV/Aids, Memórias de espaços de convivência, da produção artística e cultural, Memórias de resistência à Ditadura Civil-Militar, das práticas médico-legais e de institucionalização, bem como Memórias do contemporâneo, entre outras.

Justificativa: Embora desde os anos 1980 encontremos iniciativas de produção de uma história política homossexual brasileira narrada por pessoas das comunidades LGBTQIAPN+ (TREVISAN, 1986), bem como o uso da memória como instrumento político na resposta à epidemia de HIV/Aids (BORTOLOZZI, 2019), é apenas na última década que se observa uma expansão significativa de produções culturais e científicas sobre a História e Memória LGBTQIAPN+ no Brasil.

Durante esse período, testemunhamos a ampliação de acervos e arquivos públicos e comunitários, a consolidação das políticas de museologia social e a sensibilização sobre a importância da preservação, salvaguarda e difusão da memória dessas comunidades. Tem-se a criação de museus e pontos de memória, a produção de pesquisas e catalogações em arquivos e acervos públicos, abrangendo questões relacionadas à diversidade sexual e de gênero, além de curadorias de exposições que integram memória e produções culturais LGBTQIAPN+.

Além das produções no campo memorialístico, os debates sobre as relações entre memória e justiça ganharam força com a abertura dos arquivos da ditadura militar, um período de graves violações de direitos humanos por parte do Estado. Essa abertura possibilitou o debate sobre o direito à verdade e à justiça de transição, incluindo a sistematização das violações de direitos sofridas pelas comunidades LGBTQIAPN+ nesse contexto, como abordado na obra “Ditadura e homossexualidades: repressão, resistência e a busca da verdade” (QUINALHA, 2014). No campo da História, além da ampliação de pesquisas, iniciativas como a criação de uma rede de pessoas historiadoras LGBTQIAPN+, o estabelecimento de centros de referência, como o CLOSE – Centro de Referência da História LGBTQIA+ do Rio Grande do Sul, vinculado à UFRGS, e a institucionalização do “Acervo Cintura Fina” biblioteca da UFMG, têm sido fundamentais para a consolidação desse campo de estudos.

A consolidação do campo de estudos sobre História e Memória LGBTQIAPN+ brasileira também acompanhou debates conceituais importantes para a crítica da “história única”, com o reconhecimento da parcialidade da memória pública, que comumente desconsidera complexidades interseccionais como raça, diversidade de gênero, nacionalidade, classe, entre outros determinantes sociais da diferença.

A ampliação da produção de memórias que enfrentam o silenciamento da pluralidade de vozes que narram a história é fundamental para enriquecer a historiografia e enfrentar o apagamento histórico (RAMIREZ, 2010).

Nesse contexto, surge em 2022 o projeto Memória LGBTI+ Curitiba, uma articulação entre diversas entidades: Máquina de Ativismos em Direitos Humanos/UFPR, Dignidade, Acervo Bajubá e a Liga da Sexualidade e Diversidade da PUC/PR. Reconhecendo as especificidades das histórias locais LGBTQIAPN+, o projeto tem como horizonte realizar uma “arqueologia” das presenças e dos apagamentos dessas comunidades em Curitiba, olhando seu passado para entrecruzar seu presente. A partir de registros, indícios, arquivos, acervos, imagens, relatos, materialidades e imaterialidades, o projeto potencializa caminhos para tornar viva a memória LGBTQIAPN+ da cidade, por meio de roteiros, exposições e outras produções científicas e culturais. Conforme João Silvério Trevizan (2000), é possível narrar e analisar os momentos históricos passados a partir desses vestígios, “trapos” ou estilhaços da cultura LGBTQIAPN+. Proposta metodologicamente por Alvarez Jr. (2015) como “finding sequins in the rubble”, ou, em tradução livre, “achar purpurinas nos escombros”, a abordagem de recontar a história a partir desses fragmentos de narrativas apagadas, silenciadas e subalternizadas oferece uma perspectiva mais complexa para refletir sobre os desafios contemporâneos.

A articulação da Memória LGBTI+ Curitiba tem se dedicado a coletar e sistematizar essas purpurinas, criando um acervo de memórias orais a partir de testemunhos de pessoas LGBTQIAPN+ da cidade, assim como dos vestígios de pessoas dissidentes sexuais e de gênero que circularam em Curitiba a partir de acervos e coleções públicas e comunitárias, bem como a memória de suas produções culturais. Parte dessas pesquisas fundamentou a exposição “Memórias da R(Existência) LGBTI+ no Paraná”, realizada no Museu da Imagem e do Som do Paraná. Esta iniciativa se insere num movimento nacional de reflexões teóricas e ações práticas sobre história e memória LGBTQIAPN+ nas cidades brasileiras.

O prazo para submissão é: 31/03/2025.