OS RELATÓRIOS DOS LICENCIANDOS NA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA COMO TECNOLOGIAS DO EU
Visualizações: 2DOI:
https://doi.org/10.56579/eduinterpe.v1i1.1943Palavras-chave:
Licenciatura, Estágio, Programa de Residência Pedagógica, Produção escritaResumo
: O presente trabalho tem o objetivo de socializar uma das reflexões teóricas que integram uma pesquisa de doutorado em educação em andamento, ainda na fase de coleta de dados. Sustentada teórico-metodologicamente na obra de Michel Foucault, a pesquisa tem o objetivo de analisar produções discursivas resultantes dos dispositivos de formação do Programa de Residência Pedagógica para problematizar a constituição do discurso do futuro ou já professor de ciências e biologia acerca do funcionamento da aula, conteúdos e metodologias de ensino para e na educação básica. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com cinco participantes e coletado o relatório de atividades de cada um. Na perspectiva foucaultiana de sujeito, este é tido como produto de três eixos: saber, poder e ética (Veiga-Neto, 2011). Isso porque os indivíduos, no corpo social, são constituídos pelos discursos que, ao instaurarem regimes de verdade, articulam saber e poder na produção de subjetividades (Foucault, 2021). Porém, em sua terceira fase de estudos, Foucault se volta para a questão da ética enquanto relação que o sujeito constrói de si para consigo. Há um resgate do “cuidado de si” enquanto prática filosófica essencial na Grécia antiga, que envolvia uma série de exercícios de autorreflexão; tais práticas também foram denominadas de “tecnologias do eu” na obra foucaultiana. A partir da leitura de Larrosa (2011) sobre Foucault, é possível problematizar os processos de subjetivação em contextos pedagógicos por meio de atividades que os estudantes, por meio de indagação, crítica e reflexão, produzem determinada experiência de si. As produções escritas, como relatórios e diários de campo, fazem parte das atribuições do licenciando durante a residência pedagógica. Faz sentido pensar nesses dispositivos pedagógicos enquanto tecnologias do eu, já que seriam espaços privilegiados de reflexão do residente sobre sua própria prática docente em suas regências de aula e demais atividades na escola básica. Porém, alguns autores (Barbosa, 2019; Riolfi; Barzotto, 2018) têm apontado para fragilidades na escrita dos diários de campo e dos relatórios de estágio na licenciatura, destacando superficialidade e imprecisão nas descrições feitas pelos alunos. Dessa forma, é importante destacar que escrever um relatório não é, por si só, uma tecnologia do eu, pois, se a tarefa for meramente técnica e descritiva, sem promover autorreflexão ou transformação ética, ela permanece como uma prática de objetivação do sujeito. Por fim, pretende-se, a partir de uma análise enunciativa, identificar em que medida os relatórios escritos pelos residentes podem ser considerados tecnologias do eu, considerando a presença (ou não) de uma escrita autorreflexiva sobre sua experiência na residência pedagógica.