VIOLÊNCIA/ABUSO SEXUAL CONTRA MENINOS: FAMÍLIAS QUE NÃO CUIDAM E NEM EDUCAM
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Famílias; Infâncas; Violência/abuso sexual.Resumo
Os dados sobre violência/abuso sexual infantil no Brasil têm se apresentado cada vez mais alarmantes, independente do gênero das vítimas. Nesta pesquisa, problematizamos a ocorrência de violência/abuso sexual contra meninos, refletindo sobre o papel das famílias frente a uma realidade de subnotificação e envolta de pensamentos equivocados. Para isso, além de uma revisão de literatura sobre a temática, considerando principalmente produções acadêmicas nacionais e com este recorte de gênero, realizamos um questionário online em que participaram 170 homens brasileiros, sendo que 74 destes afirmaram ser sobreviventes de violência/abuso sexual na infância. Dos homens participantes da pesquisa que afirmaram terem sido abusados sexualmente em suas infâncias, 31,1% responderam que a primeira vez que ocorreu foi entre 7 e 8 anos de idade, sendo eles 54% negros e 51% homossexuais. Já sobre um perfil do/a agressor/a, os depoentes indicaram que 43,2% tinham entre 14 e 18 anos de idade, e que o abuso aconteceu mais de uma vez para 75,7% dos homens, sendo que 50% das ocorrências foram na casa da vítima. Neste contexto, percebemos como as crianças entendem a relação desigual entre elas e os adultos e não reagem à violência/abuso sexual por diversos motivos, como por não entenderem o que acontece (no caso das mais novas), ficando em estado de choque; por perceberem que a atitude do/a agressor/a é errada, mas temem contar para os pais; e por vezes também por receberem ameaças. Além disso, elas não se sentem encorajadas para contar à família algo estranho que aconteça a elas porque percebem que a sua palavra de criança não vale e ficam confusas, temendo criar confusão na família (já que o/a agressor/a pode ser um parente ou amigo próximo). Ademais, o segredo guardado por muito tempo estaria relacionado com dois medos: o de ser mal interpretado, como se a criança tivesse contribuído com a situação, e o de ser visto como gay (em especial no caso de crianças mais velhas, que já entendem sobre o tema). Nesse sentido, esta pesquisa nos trouxe algumas informações sobre as especificidades da violência/abuso sexual contra meninos do ponto de vista das suas famílias: (i) muitas vezes os/as abusadores/as são da própria família, como primos/as, tios/as e irmãos/ãs mais velhos/as; (ii) na maioria das vezes os abusos ocorrem dentro do próprio âmbito familiar da criança vítima; (iii) são poucas as famílias que conversam com os meninos sobre sexualidade; (iv) a maioria dos casos aconteceu mais de uma vez, o que indica a falta de atenção e cuidado das famílias; e (v) quando há uma educação sexual em casa, a probabilidade dos meninos vítimas de violência/abuso sexual relatarem as ocorrências para as famílias aumenta. Portanto, consideramos que se faz necessário uma maior discussão sobre casos de violência/abuso sexual contra meninos, debatendo a temática em variados espaços, principalmente na família, desconstruindo pensamentos equivocados que naturalizam essas práticas e fomentando mais políticas públicas de proteção e acolhimento aos menores de idade.