PARECER CNE/CES N° 492/2001 E O CURSO DE LETRAS

UMA ANÁLISE DAS ORIENTAÇÕES CURRICULARES E SUA APLICAÇÃO PRÁTICA NO PPC DE LETRAS DO IFFLUMINENSE

Autores

Palavras-chave:

Formação Docente, Licenciatura em Letras, Sociolinguística

Resumo

Desde a explosão de teorias no campo das Ciências da Linguagem ocorrida no século XX, houve importantes mudanças no que concerne à formação docente em línguas, especialmente graças às contribuições da Sociolinguística para a Educação. Na atualidade, a concepção de língua mais aceita pela Academia e que, por consequência, deve ser seguida nos Cursos de Licenciatura em Letras, é a de língua enquanto um fenômeno social, cognitivo, cultural, histórico, político e ideológico. Pensando nisso, as atuais diretrizes para os cursos de Letras, em especial o Parecer CNE/CES n° 492/2001, apontam para a necessidade de uma sólida formação teórico-prática desses/as profissionais, fundamentada na concepção de língua exposta acima. Em vista disso, este trabalho objetivou analisar as orientações curriculares para o Curso de Letras e sua aplicação prática no Projeto Pedagógico de Curso (PPC) do IFFluminense campus Campos Centro. Para tanto, fez-se uma análise documental, a partir de uma pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo e exploratório-descritivo, com o intuito de comparar o PPC de Letras com as diretrizes curriculares nacionais à luz do aporte teórico previamente construído, visando a alcançar o objetivo proposto. Os resultados encontrados, após realizadas as investigações, foram os seguintes: o PPC de Letras da referida instituição está devidamente adequado ao Parecer CNE/CES n° 492/2001, apesar de apresentar alguns problemas. Dentre eles, cabe ressaltar: i) a concepção de língua adotada pelo Parecer e parcialmente reproduzida no PPC não se sustenta em todo o documento, que recorre ao purismo linguístico-gramatical em determinados momentos (principalmente nos componentes curriculares relacionados à Sintaxe, que estuda o funcionamento da gramática da língua no nível da frase); ii) o fenômeno da variação linguística, elemento intrínseco e indissociável de qualquer debate relacionado à língua(gem), não está presente em todos os componentes curriculares que versam diretamente sobre ela, como se esperava que estivesse, devido ao seu caráter de fenômeno e não de conteúdo isolado dentro dos estudos linguísticos; iii) o PPC apresenta incoerências estruturais, dentre as

quais é imprescindível citar a absorção da Sociolinguística pela Linguística I e sua realocação para o primeiro período. Sabe-se, graças à vasta literatura sobre o assunto, que a Sociolinguística depende de outros conhecimentos para sustentar suas teorizações, como os que constam em Linguística Geral, Fonética e Fonologia, Morfologia, Morfossintaxe, História da Língua e outros. Tais conhecimentos ainda não estão disponíveis no primeiro período, fato que inviabiliza a oferta do referido componente curricular no início do curso. Todos esses pontos mostram, portanto, que embora o PPC esteja adequado ao Parecer, ainda há muito o que melhorar se se quer formar bons e boas docentes de língua. No entanto, para que haja melhorias, é preciso ouvir o corpo discente e docente do curso no que tange aos seus anseios e necessidades, além de um estudo aprofundado da legislação pertinente e de uma análise comparada do currículo de Letras de outras instituições. Assim, será possível construir um PPC mais sólido e condizente com a legislação da área e com os anseios da comunidade que compõe o curso.

Biografia do Autor

Kleverson Gonçalves Willima, IFFluminense

Mestrando em Políticas Sociais (Linha 1: Educação, Cultura, Política e Cidadania) pela UENF; pós-graduando em Currículo, Didática e Metodologias Ativas pela FAMEESP; licenciando em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER). Especialista em Letras com Ênfase em Linguística pela Faculdade Focus (2024), em Docência para o Ensino Superior pelo Instituto Mineiro de Educação Superior (2024), em Sociologia do Trabalho e Exclusão Social pela Faculeste (2024), em Educação Profissional e Tecnológica pelo Instituto de Educação e Cultura de Capanema (2024) e licenciado em Letras - Português e Espanhol pelo Centro Universitário FAEL (2023). Possui aperfeiçoamento acadêmico em Políticas Públicas em Educação (FAMEESP - 2023), em Didática no Ensino Superior (Portal IDEA - 2024) e em Docência e Prática de Ensino (Portal IDEA - 2024). Avaliador externo de projetos de Extensão (na área da Educação) do Instituto Federal Fluminense (IFF) e da Universidade Federal do Cariri (UFCA). Membro associado da Associação Nacional de Didática e Práticas de Ensino (ANDIPE) e da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), compondo o GT9 (Trabalho e Educação). Faz parte, ainda, do Grupo de Estudos Revoga NEM Acre, coordenado pela Profa. Dra. Adriana Martins (UFAC). Integra o Núcleo de Estudos em Educação e Realidade Brasileira (NEEREBRA), na linha de pesquisa "Novo Ensino Médio e Capitalismo dependente: análise da Contrarreforma do Ensino Médio como instrumento de aprofundamento da dependência educacional brasileira", vinculado ao Colégio Pedro II, e o Grupo de Pesquisa sobre Linguagem, Discurso, Mídia e Educação (LiDiME), vinculado à UFMA. Foi bolsista de Iniciação Científica (PIBIC) do projeto: "Política Linguística e Ensino de Língua(s) no Brasil e na Argentina". Faz parte de dois projetos vinculados ao IFF campus Quissamã: i) Internacionalização em Casa (Extensão) e ii) Implicações da Reforma do Ensino Médio nas Instituições de Ensino (Pesquisa). Tem experiência na área da Educação, com ênfase em Políticas Educacionais, Currículo e Educação Profissional e Tecnológica (principalmente as Contrarreformas Educacionais pós-2016); na Sociolinguística, com ênfase em ensino de língua materna (orientado pela abordagem variacionista) e em desigualdade de distribuição linguística; e na Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas Adicionais, com ênfase em Teletandem (PT-BR x ESP) e nas abordagens socioculturais no ensino e na aprendizagem de língua espanhola/L2.

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Publicado

2024-09-04