A MERITOCRACIA EM “QUESTÃO”
UMA CRÍTICA A PARTIR DA SOCIOLOGIA DE FLORESTAN FERNANDES (1966-1989)
Palavras-chave:
Florestan fernandes, Pedagogia Crítica, ConservadorismoResumo
O Brasil na sociologia de Florestan Fernandes é interpretado como uma sociedade conservadora, autoritária e que, entre outros fatores, passou por uma revolução burguesa que perpetuou o status quo de suas elites. Nestes termos, os avanços quantitativos e qualitativos angariados pela implementação da ordem competitiva a partir da desintegração da sociedade estamental escravocrata, no fundo, manteve o “circuito fechado” para o povo através de um formalismo democrático. Neste quadro, este trabalho tem o objetivo de apresentar a crítica do sociólogo paulista a retórica meritocrática conservadora, com o intuito de revelar, a partir de sua sociologia, os fatores que produzem e reproduzem tanto as elites quanto a condição de “desterrados”, tomando como cerne analítico o campo educacional. A metodologia é de cunho qualitativo-bibliográfico e privilegiou a obra educacional de Florestan Fernandes, além de dialogar com outros trabalhos relevantes e que complementam esta temática em sua obra. Os resultados evidenciam que a formação social brasileira ao ser impactada profundamente pela gramática política do conservadorismo de classe, entende que o acesso a educação e a ocupação de espaços de prestígio social são “naturalmente” reservados para as elites. Neste sentido, estas reagem a qualquer política e/ou movimento de democratização da educação. Em segundo, as elites conservadoras e portadoras do discurso meritocrático não pautam sua narrativa no fato de serem portadoras de “heranças” culturais e econômicas. Por último, mas sem esgotar o debate, Florestan denuncia o afunilamento educacional identificado historicamente em seus trabalhos como algo naturalizado, onde, principalmente as crianças e jovens das camadas populares, são responsabilizadas por uma evasão escolar causada por fissuras sociais profundas. Neste quadro, o discurso meritocrático busca escamotear as gritantes questões sociais e desigualdades socioculturais existentes no país, através de uma ideologia de totalidade de nação que, no fundo, expressa mais um histórico projeto de classe e de elites do que um projeto de construção nacional a partir do espraiamento do horizonte democrático e, portanto, educacional como necessidade imprescindível para realização deste projeto. Portanto, concluímos que a sociologia da educação de Florestan torna-se assim um importante instrumento de análise crítica para a prática educacional e pedagógica, uma vez que considera as dificuldades e os desafios da educação para além da culpabilização dos sujeitos, mas sim, do entendimento de um histórico aspecto estrutural que insiste em permanecer, como também, em afetar drasticamente o acesso e, principalmente, a permanência das crianças e jovens das camadas populares a educação.